Quando um cabo isolado de média tensão falha, a primeira reação costuma ser trocar o trecho danificado, religar o circuito e seguir em frente. É o equivalente a dar um antitérmico para um paciente com febre: alivia o sintoma, mas não trata a doença. Assim como no corpo humano, as redes elétricas costumam “avisar” antes do colapso: aquecimento excessivo, falhas recorrentes em um mesmo trecho, deformações na isolação, curtos na terra. A diferença entre um tratamento paliativo e um diagnóstico preciso está em decidir investigar de forma estruturada a causa raiz da falha.
Estudo de caso: falhas recorrentes em um complexo eólico
Em um complexo eólico no Nordeste brasileiro, falhas que pareciam pontuais começaram a se repetir. Os sintomas incluíam:
- deformações na isolação;
- curtos para a terra em trechos específicos.
Foram realizados ensaios de Tangente Delta, Reflectometria no Domínio do Tempo (TDR) e inspeções visuais. As causas puramente mecânicas, químicas e elétricas foram sendo descartadas até que um ponto chamou atenção: os cabos operavam acima da temperatura máxima permitida.
A análise de projeto e de campo revelou:
- resistividade térmica do solo subestimada;
- espaçamento entre circuitos menor do que o previsto;
- ausência de diretrizes claras para compactação do solo;
- falhas no dimensionamento e instalação do backfill.
O cruzamento entre medições, ensaios laboratoriais e simulações térmicas mostrou que a origem principal era térmica, agravada por decisões de projeto e instalação. Ou seja, trocar apenas o trecho danificado não resolveria o problema estrutural.
O que é análise de causa raiz em cabos isolados?
A análise de causa raiz de falhas é uma abordagem sistemática para identificar por que um cabo falhou – e não apenas onde ele falhou. No contexto de redes subterrâneas de média tensão, essa análise considera fatores como:
- danos mecânicos na instalação;
- degradação térmica ou química do isolamento;
- envelhecimento prematuro dos materiais;
- falhas de projeto e dimensionamento;
- problemas de instalação e de aterramento;
- condições de solo e backfill que dificultam a dissipação de calor.
Em muitos casos, os fatores atuam em conjunto. Por isso a investigação precisa ser multidisciplinar e baseada em dados de campo, laboratório e projeto – e não apenas em percepções individuais.
Papel das normas: a importância de metodologias estruturadas
Normas como a IEEE 1511.1-2010 ajudam a organizar o processo de investigação de falhas em cabos isolados, ao:
- padronizar a classificação de falhas;
- orientar a coleta de evidências;
- estruturar a análise de dados;
- apoiar o registro e o aprendizado para projetos futuros.
Seguir uma metodologia reconhecida reduz o risco de conclusões apressadas e permite que a empresa construa um histórico técnico consistente sobre suas redes subterrâneas.
Quando a análise de causa raiz deixa de ser opcional
A investigação detalhada da causa raiz passa a ser indispensável quando:
- as falhas se tornam recorrentes;
- há impacto relevante em disponibilidade, receita e SLA;
- substituições emergenciais começam a se repetir;
- os problemas se concentram em certos trechos, circuitos ou tipos de instalação.
Nesses cenários, continuar apenas “trocando cabos” significa manter um modelo reativo, caro e imprevisível. A análise de causa raiz permite atacar o defeito estrutural que está por trás da sequência de falhas.
Da correção à prevenção: manutenção orientada por causa
Descobrir a origem do problema é só o primeiro passo. O objetivo final é transformar esse conhecimento em prevenção.
A partir das conclusões da análise de causa raiz, é possível:
- fortalecer a manutenção preventiva, com ensaios periódicos (VLF, Tangente Delta, ensaios de Descargas Parciais, inspeções em emendas e terminações);
- alimentar modelos preditivos, usando históricos de medições e tendências de degradação para antecipar intervenções;
- ajustar projetos e padrões de instalação, refinando critérios de dimensionamento térmico, escolha de backfill, compactação do solo e espaçamento entre circuitos.
Cada falha investigada passa a ser uma fonte de aprendizado para reduzir o risco de novas ocorrências em toda a rede.
Olhar além do cabo que falhou
A análise de causa raiz em cabos isolados é o ponto de virada entre uma operação que apenas reage a falhas e uma gestão de ativos subterrâneos que aprende com elas.
Ao ir além do reparo imediato, as empresas:
- reduzem custos com paradas não programadas;
- evitam substituições repetidas do mesmo trecho;
- aumentam a confiabilidade e a disponibilidade da rede;
- alimentam programas robustos de manutenção preventiva e preditiva;
- melhoram a qualidade de projetos e instalações futuras.
Em vez de tratar apenas o sintoma, passamos a tratar a causa. Em um setor que exige previsibilidade, segurança e eficiência, essa mudança de postura é o que prepara as redes para operar com mais confiabilidade no longo prazo.
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